- Como já estabelecemos que o objetivo de Mauss era estudar as sociedades contemporâneas, qual seria então o problema das mesmas? Onde estaria a razão de tantas guerras, desigualdades e tormentos? O problema, na ótica do autor, estava na falta de reconhecimento do ser humano. Na falta de dádiva, por assim dizer. A crise reside em achar que se vive pondo a mercadoria no centro de importância. O que importa é o ser humano, são as relações humanas. Poderíamos dizer, inclusive, que "rocha humana" seria um belo conceito-chave... Não seria Marcel Mauss um evolucionista, utilizando termos como "primitivos(as)" em seu trabalho? É óbvio que ele possui influências claras, especialmente considerando a época em que escrevia. Entretanto, há uma diferença evidente. Os autores evolucionistas reuniam dados etnográficos produzidos por qualquer um, desde que pudessem adequá-los a seus conceitos de "barbárie", "selvageria"... Mauss nunca misturou dados. Estudava uma sociedade por vez, revelando especificidades e permanências. É o método da comparação precisa. O autor estuda o sistema social. Os elementos não são assim comparados de forma solta, isolada. São interpretados como parte de um sistema maior. Um exemplo para estudar um sistema social com seriedade e um mínimo de eficiência o próprio antropólogo realiza. Busca acessar as consciências, através do estudo da língua. Intenta compreender assim as significações, as interpretações desse sistema social.
- A importância desse método de estudo do sistema demonstra-se em uma análise bastante atual. Referimo-nos ao pensamento de alguns religiosos em sua cruzada contra a homossexualidade. A prática homossexual atinge um fundamento do sistema de pensamentos atrelados à sua crença, sua religião. Pelo menos é assim que ele o pensa. E quando se atinge uma parte integrante, fundamental de um sistema, abala-o inteiro, enfraquece-o nas bases. A resposta reacionária é a violência, física ou simbólica. Busca-se defender a qualquer custo aquela estrutura já construída, para evitar seu desmoronamento completo. Após essa reflexão, concluimos o estudo do dia pensando a importância da retribuição na relação feita sob a dádiva. É a retribuição que "fecha" o sistema, o contrato estabelecido no ato de dar. É ela a responsável por diferenciar esse tipo de troca de um simples escambo. É ela quem cristaliza o estabelecimento do vínculo pessoal. Como o exemplo do traficante que em épocas especiais distribuía dinheiro e presentes aos moradores da favela em que "labutava". Havia ali a retribuição pelo uso do território, pela perturbação da paz. Utilizando a etnografia de Malinowski (Sugestão de leitura 04), Mauss aplica a teoria, algo que o polonês não tinha. A atualidade da mesma demonstra-se, a cada estudo, de forma salutar.
Referências Bibliográficas
MAUSS, Marcel. "Ensaio sobre a dádiva. Forma e razão da troca nas sociedades arcaicas." In: Sociologia e Antropologia. São Paulo: EPU/EDUSP. 1974
Sugestão de leitura 04
MALINOWSKI, Bronislaw. Argonautas do Pacífico Ocidental. São Paulo: Editora Abril. Coleção Os Pensadores. 1978.
Douglas Coutinho - Cook Multimídia
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