sábado, 20 de setembro de 2014

Resumo da Aula 11: "Ensaio sobre a dádiva - sessão V" (09/09)

- Conectando-se à fagulha, iniciamos as conversações debatendo A Dominação Masculina, livro do famoso sociólogo Pierre Bourdieu. Explica o autor que a dominação de gênero está tão ancorada em nós que temos dificuldade mesmo em percebê-la. Relações de dominação, estabelecidas no processo histórico, têm essa tendência de interiorizar-se nos indivíduos, que passam a vê-la como algo "natural". Cria-se um "habitus", para utilizar o conceito do autor francês. Conscientizar é válido e preciso, mas seria a solução final para tal problema social? Como Mauss demonstra em sua crítica, devemos nos distanciar dessa lógica que define o ser humano como objeto, mercadoria. As possibilidades de troca, de relação humana sob a lógica da dádiva, encontram-se assim diminuídas, embora ainda resistentes. A violência contra a mulher, seja ela simbólica ou física, tem como uma de suas fontes essa perda do aspecto humano nas sociedades. Os preconceitos de gênero são naturalizados pois observados desde o "berço". O futebol, por exemplo, é imediatamente visto como um esporte para homens. Se uma menina desejar jogar com os amigos na escola, será tratada de forma diferente. Seus próprios colegas resistirão à ideia de aceitá-la na brincadeira, quando não respondendo com violência durante a partida. Sem contar que às meninas não é dada a chance de praticarem o esporte desde cedo. Os meninos aprendem a andar e correr já com o "obstáculo" da bola incorporado ao seu equilíbrio. Se torna assim bem mais dificultoso para as meninas adaptarem-se ao jogo, não acostumadas aos movimentos "naturais" do mesmo. Reproduz-se assim o velho e estúpido lema de que "futebol é coisa de homem"(Sugestão de leitura 06). A mudança deve vir então através do exemplo, na experiência prática. Vai além do conscientizar, uma vez que ultrapassa o mundo das palavras.

- Dentro dessa impessoalidade desalentadora existem bolsões, claro, como bem tentamos demonstrar aqui nestes textos modestos. Mas o que importa na análise é o processo histórico em si, o sistema como um todo. É isso que deve ser questionado. Quando lemos em pesquisas o triste fato de que muitos professores adoecem graças aos estresses de sua profissão, faz-se necessário questionar esse sistema no qual estamos inseridos. É preciso ir além das experiências individuais. Não se pode tomar casos de exceção como refutação à "regra" bem observada.

- Seria Mauss um romântico? A questão deve ser bem explicitada e refletida. Mauss buscava soluções concretas para uma problemática observada nas sociedades a ele contemporâneas. A solução, obviamente, está impregnada de seus ideais políticos, quais sejam, socialistas. Mas será que propor soluções denotaria romantismo? Não seríamos então todos aqueles que não são "neutros", românticos? O francês demonstra, sim, que sem dádiva não há sentido de viver, não há funcionamento social. Deve-se haver o estabelecimento de vínculo de almas, ou então o "fim" seria triste, quando não próximo. Logo, ele sonhava sim em relação à transformação da realidade, isso é fato. Entretanto, ele demonstra um caminho possível. Concorde com ele ou não, isso é livre, porém não há como negar sua pesquisa valiosa. O autor busca exemplos para validar sua teoria, que não é fechada, por sinal. Sem contar que o próprio afirma que nas diversas sociedades coexistem número variado de lógicas diferentes. A grande questão é: qual delas predomina?


Referências Bibliográficas
MAUSS, Marcel. "Ensaio sobre a dádiva. Forma e razão da troca nas sociedades arcaicas." 
In: Sociologia e Antropologia. São Paulo: EPU/EDUSP. 1974.


Douglas Coutinho - Cook Multimídia

Nenhum comentário:

Postar um comentário