- Fazendo uma conexão à fagulha da Alana Ribeiro, começamos a aula discutindo sobre o preconceito. Como entender essa classificação ou hierarquização de características físicas? Trata-se de um processo histórico, socialmente construído ao longo do tempo. O corpo é, assim, também um objeto histórico. Lembramos que foi Marcel Mauss o primeiro a estudar o corpo em seu aspecto sociológico (Sugestão de leitura 03). O racismo revela-se como uma estúpida generalização de experiências históricas, interiorizando-se em alguns com espantosa "naturalidade". O que nos interessa observar é a opressão presente nas mais diversas relações de poder. Relações essas que implicam dominação. O corpo pode ser assim um veículo de afirmação ou contestação dessas relações. Explica-se...
- Utilizando-nos de um exemplo histórico, citamos o caso espartano. Os guerreiros de Esparta tinham o costume de pentear seus cabelos antes das batalhas. O que parece exótico é na verdade facilmente explicável. O cabelo, arrumado à moda "espartana", era um dos símbolos de identidade daquele grupo. Quando o inimigo avistava um soldado se aproximando com os cabelos arrumados daquela forma, sabia que teria problemas. Até porque essa tradição "capilar" era essencialmente aristocrática. E como bem sabemos, guerrear era uma arte ou ofício dos nobres. Aqui, observamos um claro exemplo de cristalização de uma relação de poder, através de um símbolo. Cabelos, roupa, corpo, barba... Todos exemplos de marcas de um processo histórico-social. Símbolos de identidade. Outro exemplo do uso do corpo para o estabelecimento de uma relação de poder? O exército. Posições de sentido, marcha... O corpo é utilizado para evidenciar pertencimento ao grupo, além de submissão às suas regras.
- Exemplo tão triste quanto poderoso se deu em Acari. Um professor percebeu que duas meninas, alunas suas, atrasavam-se todos os dias, atrapalhando sua aula. Decidiu-se rápido: passou um belo sermão na frente da turma inteira. Ele deveria ser respeitado, afinal... Mas os atrasos continuaram. Irritado e intrigado, o docente resolveu pesquisar. A aula anterior era de Educação Física, mas ele pôde observar que a mesma se encerrava em horário normal. Qual seria então a razão do atraso? As meninas, histórico e sociologicamente negras, não tomavam banho junto com as colegas. Esperavam todas terminarem, para enfim começar sua higiene. O motivo, triste, foi logo descoberto. As duas sofriam perseguições das outras, que zombavam do fato delas terem pêlos pubianos crespos, opostos a seus cabelos alisados. Para não sofrer mais, preferiam aguardar e se banhar depois. O corpo é veículo do processo histórico. Carrega assim, em si, diversas relações de poder. É, em suma, um objeto de poder. Importante refletir sobre as imposições sociais ao corpo feminino, por exemplo. O alto número de salões de beleza no subúrbio não traria consigo uma proposta de "embranquecimento"? O debate aqui é muito válido, e a aula inspirada na "ditadura do cabelo liso" assim o comprovou.
Sugestão de leitura 03
MAUSS, Marcel. "As técnicas do corpo". In: Sociologia e Antropologia. São Paulo: Cosac & Naify, 2003.
Douglas Coutinho - Cook Multimídia
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