quinta-feira, 14 de agosto de 2014

Resumo da Aula 2: "História e Antropologia, reflexões iniciais" (07/08)


Fagulha 01 - "O bom filho à casa torna", por Mateus Gusmão
- Quando recebi o desafio de preparar a primeira fagulha, não tive dúvidas sobre o que falaria. Deveria comentar sobre o meu primeiro momento em sala de aula, em um colégio que fez toda a diferença para a minha formação humana e acadêmica. O tempo que havia para o preparo e a importância que esse momento possui me levaram a tal escolha. Apesar de saber que seria extremamente gratificante, estar totalmente empolgado e obter uma excelente ajuda dos meus amigos, tive que explicar aos meus colegas os contratempos encontrados no preparo e na execução da aula. Primeiramente resumir todo o contexto europeu dos séculos XVI, XVII e XVIII em apenas 3 aulas. Para tal, utilizei obras de autores como David Landes, E. Thompson e F. Engels. Outro desafio seria falar de História para alunos que esperavam ansiosamente uma brilhante aula de princípios físicos para o funcionamento de um motor concebido na Europa Moderna.

- No entanto, apesar das dificuldades, aprendi demais com a experiência. Penso que a vocação ou dom para ser professor, está diretamente ligada à relação que se estabelece com os alunos. E é a reação deles que legitima. No meu caso particular, a maior recompensa do trabalho foi a reação positiva dos alunos à minha aula. Quanto à pergunta feita pelo professor Alvito, sobre qual conselho eu daria para quem deseja saber como começar a dar aulas, seria direto. Faça de conta que a sua oportunidade pode chegar amanhã. Caso ela chegue, você já estará preparado, e com certeza fará um bom trabalho.






Aula
- Começamos a aula trabalhando com a primeira tese de doutorado em Antropologia do professor Marcos Alvito (Texto 01 das leituras recomendadas). Não finalizado graças ao interesse do mesmo em estudar a favela de Acari (a segunda tese, que foi concluída), o trabalho se trata de um estudo sobre o controle do corpo feminino e sua apropriação social na Grécia Antiga. Comparando os casos de Atenas e Esparta, o autor demonstra a importância do corpo feminino por ser possuidor da capacidade biológica de reprodução da espécie. De um lado Atenas, onde a mulher permanecia costumeiramente trancada no gineceu. Suas saídas, sempre esporádicas, eram reservadas para grandes ocasiões, como festas importantes ou funerais. Somente as muito pobres saíam às ruas com frequência, sendo vistas socialmente sempre como prostitutas em potencial. Um exemplo desse costume ateniense se encontra em "Sobre a morte de Eratóstenes", história de adultério feminino em que o nome da mulher nem mencionado é, evidenciando seu papel social exigido de submissão e passividade. Do outro lado Esparta, conhecida pela sua cultura de guerra, onde as mulheres eram valorizadas tão simplesmente por sua capacidade reprodutiva. Segundo Aristóteles, entre os espartanos não havia ciúmes, pois a mulher servia a um propósito claro: dar filhos aos "parceiros" sexuais, sejam lá quais forem.

- Mergulhando então no primeiro capítulo - "A Fronteira" -, foi proposto à turma um exercício de escolha de palavras-chave, na busca de um entendimento mais completo da leitura. Quem escolhe palavras-chave elege, por assim dizer, os assuntos que considera mais importantes no texto. As palavras escolhidas foram: "fronteira"; "identidade"; "relações"; "explosão (dupla)"; "unilaterais"; "enfoque comparativo"; e "interdisciplinaridade". Compreendemos que a tal da fronteira entre disciplinas, aqui sendo a História e a Antropologia, é basicamente corporativa. Elas se interpenetram, comunicam-se o tempo inteiro. O próprio termo remete a uma ideia histórica de troca, intercâmbio. Embora essa separação absurda ainda persista no campo burocrático, não faltam exemplos de autores que conseguiram enxergam além das tais fronteiras, promovendo um verdadeiro diálogo interdisciplinar. Para citar apenas um, trazemos Marcel Mauss, que será estudado com mais clareza no decorrer de nossa primeira unidade.


- Conexão perfeita se faz, a partir dessa ideia, com a leitura de Paul Veyne (Texto 02). O autor afirma, resumidamente, que a História por si só não tem nenhuma teoria. Há na disciplina uma falta de "constantes". Por isso, ela necessita de contato frequente com outros campos de conhecimento das Ciências Humanas, tornando-se assim mais completa. Para falar de religião, por exemplo, não basta enumerar fatos e datas e assim supor que se tem uma análise do processo em mãos. É preciso entender a problemática de dentro, fazer observações, e assim desenvolver uma teoria acerca daquilo. Faz-se necessário entender o sentido das coisas. A Antropologia busca esse entendimento, de tal forma que a História não poderia andar sozinha sem a utilização de seus saberes teóricos. Tal qual a Astronomia, sem os valorosos estudos da Física.

Referências Bibliográficas
(Texto 01) ALVITO, Marcos. "Rumo à dupla explosão? Os historiadores e suas sete tribos antropológicas". 1995.
(Texto 02) VEYNE, Paul. O inventário das diferenças: História e Sociologia. São Paulo: Brasiliense, 1983.


Douglas Coutinho - Cook Multimídia
Fotos: Barbara Celi - Cook Multimídia

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