- Os estudos da Unidade II foram iniciados com uma breve explanação da biografia de nosso autor estudado, Clifford Geertz. Nascido em San Francisco, na Califórnia, o antropólogo fôra abandonado pelos pais divorciados ainda criança. Sendo criado por parentes distantes desde os três anos de idade, ele virou-se como pôde. Serviu pela Marinha voluntariamente na Segunda Guerra. Graças aos incentivos da GI Bill, lei que previa diversos benefícios aos ex-combatentes, Geertz investiu em seus estudos. Inicialmente cursou Literatura Inglesa, intentando tornar-se escritor, mas formou-se em Filosofia. É notável, no entanto, as influências de sua paixão pela Literatura em sua teoria acerca da cultura. Abordaremos melhor tal questão ao longo de nossos estudos. Retomando a explanação biográfica, ressaltamos seu doutoramento em Antropologia, em Harvard. A universidade foi tudo pra ele. Em Harvard, por exemplo, foi onde conheceu sua futura esposa. E toda a sua carreira acadêmica foi nada mais do que brilhante. Geertz foi o primeiro antropólogo a entrar no Instituto de Estudos Avançados de Princeton. E foi em Princeton que lecionou ao lado de Robert Darnton, autor que será bastante discutido ao longo dessa segunda unidade.
- Clifford Geertz caracteriza-se por possuir uma escrita incrivelmente bem "amarrada". Demonstra as influências literárias em seu texto, impregnado de exemplos e imagens. Normalmente, no entanto, o autor só diz a que veio, só revela sua teoria, no final. Outra característica marcante de Geertz: o autor não trabalha com sistemas. Segundo o autor, quanto mais rica a análise, mais profunda, menos "definida" ela será. Obviamente ele trabalha com conceitos. Para o nosso estudo, faz-se mister entender um deles em especial: "descrição densa". Descrição densa é interpretação. O exemplo da piscadela se faz bastante útil. Uma descrição mínima e superficial do ato de piscar resume-se em apontar o movimento. A descrição densa reside em tentar desvendar as intenções. Foi apenas um piscar, ou o ato significou mais? Talvez uma demonstração de intimidade, o reconhecimento de alguma brincadeira entre dois amigos, uma imitação ou deboche de alguém que tenha um tique nervoso... As possibilidades de interpretação são enormes. A descrição densa é essa interpretação mais profunda, que vai além da simplicidade de um gesto para buscar sua significação. Entenderemos um pouco melhor o tema ao estudar suas análises da briga de galos em Bali. É uma simples diversão "primitiva", ou teria significado de impacto naquela sociedade, na maneira que ela se vê? Aguardemos os próximos resumos...
- O conceito fundamental na obra que estudaremos (ver Referências Bibliográficas) é o de "cultura". A interpretação é o método de análise, como já explicitamos. A cultura é vista por Geertz como uma "grande ideia", trabalhada por muitos campos de saber. O autor parte de Weber para demonstrar que o homem só vive em sociedade graças a um conjunto, ou teia de significados criados por ele próprio. O trabalho do antropólogo é etnografar, ou seja, buscar a interpretação desses significados. O objetivo? Compreender a linguagem do "discurso social". Jamais será alcançado o êxito total, segundo o autor, porém a apresentação dos dados possibilitará um entendimento maior dessas outras "significações". Não é possível tornar-se o nativo, mas é possível familiarizar sua teia de significações ao máximo. Aliás, essa visão de cultura de Geertz é a razão de suas discordâncias vitais em relação ao estruturalismo de Claude Lévi-Strauss. Um pouco acima comentamos que Geertz não trabalha com o conceito de "sistema", ao falar de cultura. Pois aqui reside sua crítica. Cultura é algo muito rico, como bem demonstrado em sua ideia de "teias de significado", para ser fechado ou reduzido à sistemas de analogias.
Referências Bibliográficas
GEERTZ, Clifford. "Capítulo 1: Uma descrição densa: por uma teoria interpretativa da cultura". In: A interpretação das culturas. Rio de Janeiro, Editora Guanabara. pp.13-41
Douglas Coutinho - Cook Multimídia